terça-feira, 15 de julho de 2014

15 - Labib



15 - LABIB 




       Passados dois anos do nascimento de Renée, nasceu Labib, que veio alegrar e completar a família, que só dez anos mais tarde estaria de fato inteira. 
      Desde pequeno, encantou todos com seu vigor, energia e alegria. Era um menino lindo, sensível, inteligente e bem cedo demonstrava o belo caráter de que era possuidor. 
      Cresceu da maneira mais comum do mundo, brincando com carrinhos, feitos por ele mesmo, (ah, sempre foi um mestre na arte de montar e desmontar – mais desmontar que montar - aparelhos, brinquedos, relógios, o que lhe viesse à mão) ou com papagaios, que ele soltava no azul do céu de Piratininga.
       A rotina de Alfredo e Sálua era entremeada por idas à fazenda, nos fins de semana. Divertiam-se muito. Labib, mesmo tão pequeno, era um companheirão. Ajudava a organizar as coisas, carregava o que podia, tomava conta de suas irmãs maiores. É! Ele já estava imbuído desta idéia de que o irmão toma conta das irmãs, não importava quem fosse mais velho. Sálua preparava um almoço gostoso, servido na  casa  da fazenda, de madeira, sobre palafitas, toras de aroeiras, ou, nos fins de semana, à sombra das grandes mangueiras, com alegria, brincadeiras , respeito e amor.  Momentos de beleza. De amor. Só muitos anos mais tarde, Alfredo construiria uma casa-sede de tijolos, bem ao estilo que apreciava: alta, com varanda ampla e com vista para todos os lados da fazenda, já com seus 300 alqueires paulistas.

      A casa de madeira, a primeira sede da Fazenda Matão, era parecida com esta, mas as palafitas não eram tão altas. Ah, a escada vazada  era igualzinha! Meu terror na infância. Só que dava para a  porta da cozinha, com fogão a lenha. Outra diferença: nossa casa não era pintada. Que pena! e que pena não termos dela nenhuma foto A varanda era igual e nela muito nos divertimos com as canas, que descascávamos e saboreávamos,, aos pedacinhos E estava assentada sobre terra. https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=0ahUKEwjP_8jq7I_OAhXGg5AKHaJxAI0QjB0IBg&url=http%3A%2F%2Fsantoantoniokids.webnode.com.br%2Fproducts%2Fonde-moramos-%2F&psig=AFQjCNGN48jpbFSMk5mzej40NFOi28p6qg&ust=1469577901722636&cad=rjt








       A primeira casa, a de madeira,  tinha uma varanda estreita e comprida, em L  uma escadinha de poucos degraus na entrada da frente, e, na entrada pela cozinha,  uma escada vazada de uns dez degraus. Bem se percebe que o terreno era num aclive.
       No vão embaixo da casa, a criação de galinhas passeadeiras com seus pintinhos fazia a alegria das crianças. 
    
       AI!Ai!Ai! Quem se atreve a falar do Labib? Tantas qualidades, tanto amor encerra seu coração! Sempre fui sua fã, sempre depositei nele toda minha confiança. Mas é assim mesmo. Todos confiam no Labib. Ele tem aquele olhar que você conhece das figuras maravilhosas da História ou da História dos heróis: um olhar com fundo de verdade. Sem falsidade, sem mentiras. Grandes olhos verdes, onde boia a sinceridade.
      Estudou em Piratininga o primário e, por aí não haver o curso ginasial, já teve que fazê-lo em Bauru, no Colégio Guedes de Azevedo. Continuou os estudos cursando o Técnico em Contabilidade. Tinha muita facilidade para números e sua vocação descarada era a engenharia elétrica ou mecânica. Adorava desmontar e montar aparelhos, äs vezes deixando-o com uma pecinha a menos. Há!há!há! Era fatal!!
      Labib e Nassib, seu irmão mais novo, sempre foram muito unidos. A classe do Labib ia muito bem com o espírito cheio de humor do Nassib. Labib era comedido no falar, mas, na hora das piadas era o primeiro a gargalhar. Eu, que sou péssima contadora de anedotas, conseguia ouvir suas gostosas risadas, depois das minhas fracas performances. (Obrigada, Labib, só seu coração puro pra achar engraçado o que eu lhe narrava.) Até hoje ele é assim. Quer ouvir uma risadona gostosa? Conte alguma piadinha pra ele. É tiro e queda.
      
      Já contei como ele era confiável, como era bom sentir sua autoridade junto ao papai, para nos liberar um cineminha. Era só pedir:
--- Labib, pede pro papai nos deixar ir ao cinema?
     Ele dirigia-se à sala e, com aquele jeito bom e seguro:
--- Pai, as meninas (sic) vão ao cinema.
     Pronto! A coisa mais fácil.
     O Nassib também era bom nestas intermediações. Era batata! A gente corria para se arrumar e descer a Rio Branco, ou a Gustavo Maciel (conforme fosse Cine Bauru, ou Cine Cápri, ou Cine São Paulo) 
      Quando terminou o curso de contabilidade, minha mãe matriculou-o numa faculdade de Engenharia americana, em Oklahoma, onde moravam seus parentes. A decisão também incluía o Nassib, em outra área, talvez Direito. Só que eles recusaram essa oportunidade. Preferiram ficar em Bauru.
     O Labib sempre foi meu protetor. Nas fotos sempre estava junto a mim. Nunca serei suficientemente agradecida por seu olhar atento. Foi meu irmão mais chegado durante muitos anos. 
      Aos domingos, passava horas ouvindo seus discos. Era ele quem mais comprava discos em casa. (Depois era eu)  Havia um armário- que nós chamávamos de discoteca- cheinho de discos de 78 rotações, dos mais variados artistas do mundo. Foi através desses discos que conheci os artistas prediletos de meu irmão, que também se tornaram meus preferidos: Yves Montand, Ivon Curi, os fox americanos, Cole Porter, e as tradicionais músicas de nosso repertório mais clássico: Carinhoso, Na Baixa do Sapateiro, ( a música predileta do Labib).
       Quando eu estudava piano, o Labib, às vezes, ficava deitado no sofá da outra sala. Se eu esbarrasse numa nota -- o que acontecia amiúde-- ele exclamava qualquer coisa que me puxava pelos brios.  Sempre teve um ouvido superafinado (Para o meu desconsolo, meus erros ao piano não passavam em branco, mesmo!)
      Outro elo entre nós era a leitura. O Labib assinava uma coleção de livros, O Livro do Mês, ou coisa parecida. Muito antigo, mesmo: anos 50.Era uma coleção de obras da literatura mundial, em brochura, mas textos integrais, originais, com boas traduções da literatura estrangeira. Nada de adaptações. Foi através desta coleção que me apaixonei por leitura. Por José de Alencar, Machado de Assis, Conon Doyle, Victor Hugo, Oscar Wilde, Muito bom! O Labib é quem os trouxe para nossa vida.
       Nossa casa era grande, gostosa, mas velha e havia baratas, de quando em quando.  Norma e eu morríamos de medo ao ver o nojento bichinho. Combinamos com o Labib: quando batêssemos na parede, que separava nossos quartos, que ele viesse com o chinelo, que era barata à vista. E acontecia assim mesmo. Nunca precisei morrer de nojo e matar  barata. Era só bater com os nós dos dedos na parede, Norma e eu empoleirarmo-nos nas camas, que já vinha o querido irmão, de pijama, empunhando o chinelo mortífero. Nosso herói! E, enquanto não vencesse o  cruel inimigo, ele não desistia, porque sabia que  não conseguiríamos dormir se não víssemos o cadáver do repulsivo inseto. Éramos cruéis!
      Quando fui estudar no Instituto de Educação Ernesto Monte, curso clássico, à noite, quem ia me buscar quase todas as noites? Quem ia paquerar antes, na cidade, mas nunca perdia o meu horário de saída da escola? E, quando comecei a lecionar em P Alves, e na ida, tudo bem: o carro do namorado de minha amiga se comportava direitinho. Mas... na volta, tarde da noite, o bandidinho virava uma mala sem alça, resolvia pifar, no meio da estrada. Diga-me: quem ia me resgatar? (Ainda bem que lecionei nesta cidade só duas semanas ) Era o Labib, sem nunca se queixar do trabalho que eu lhe dava.
      E, uma tarde, quando ainda cursava Letras na então Fafil, apareceu, na faculdade, um vendedor de livros da literatura francesa. A tentação foi muito forte, nem me preocupei e comprei a linda coleção. No nome de quem, hem? Lógico, no nome do irmão em quem sempre depositei toda a confiança. 
      Vai daí que, passados alguns meses, na hora do almoço, nós todos à mesa, apareceu um cobrador chamando pelo Labib: ele foi atendê-lo e eu, naquela minha nuvem especial e espacial, nem aí com a coisa.  Lá fora, o Labib explicava ao vendedor que jamais compraria livros em francês, pois se não lia francês... Ora, que disparate! 
      O vendedor argumentou quanto pôde, até que desistiu, vencido pela sinceridade do Labib e, quando começou a descer as escadas, levantou a cabeça. 
      Ó Anjo da Guarda de vendedores de livros! Seus olhos vararam, pela grade da janela aberta, a sala onde estava minha estante! E, lá, numa das prateleiras, bem à mostra, orgulhosamente, estava a prova gritante de sua venda. Linda, saltando aos olhos, quase pulando da prateleira, destacando-se com a encadernação caprichada de  couro caramelo: minha coleção de clássicos da Literatura Francesa!
      --- Olha ali! É a coleção!!!
       Labib, petrificado nem desceu pra se certificar. Acreditou na hora..
       Lá, no meu espaço sideral e estratosférico, ouvi a  voz do meu irmão gritando:
       --- Sôõõõnia!!!!
       Caí do paraíso, expliquei-me, como pude, atarantada que só, e ele... pagou. Nem sequer uma reprimenda. Ao contrário: um sorriso bailava em seus lábios. 
      Deixou uma dedicatória deliciosa num dos volumes.
      (Quem poderia predizer que esse irmão tão compreensivo, mais tarde, quando pai, apesar de tão amoroso e apaixonado pelos filhos, deu espaço a um pai muito cônscio de sua responsabilidade e  que impunha disciplina e horários rígidos para as saídas dos filhos? Irmã é uma coisa: filhos são outras.)
       Labib exercia um fascínio sobre as mulheres. Elas ficavam doidinhas por ele. É! Ele se parecia com o astro Hollywoodiano, Clarck Gable,  de O Vento Levou, cabelos bem cortados e penteados, bigodinho, um charme. E tinha uma voz aveludada, grave. Perdi a conta de quantas mulheres queriam se casar com ele. 
      Vou tentar lembrar-me de algumas: acho que uma querida professora teve mais paciência comigo, não pelos meus belos olhos, mas pra mirar os olhos verdes do Labib. A minha prima.... A outra prima ... Uma prima de SP também não era imune ao charme de meu irmão mais velho. Havia ainda outra prima, também de SP, que ficou encantada por ele. Mas Labib não se tocou por nenhuma delas.
       Teve muitas namoradas, ou de Bauru, ou que passaram por Bauru. Uma tal de G ( nome composto, oxítono terminados por i ) foi sua namorada e com ela até chegou ao noivado. G, na época, era estudante de Direito e morava no pensionato das freiras. Dizia-se que todas as meninas do pensionato, à hora de dormir,  tinham que beijar a foto do Labib, incrustada na cabeceira da cama, como se fosse a de um santo. Mas durou pouco este noivado, apesar de tanta devoção.  
      Depois, noivou - sim, ele era sério, de boas intenções - com outra garota. Seu nome também era oxítono terminado por i. Fomos à casa dela, meus pais fizeram o pedido. Logo depois estava solteiro de novo.Todos os seus namoros  eram sérios. Levava todas em casa pra conhecer a família. Bom, destas, que foram marcantes,  lembro-me bem. Também me lembro de que houve uma visita  de uma moça um pouco vulgar. Fomos todos passear de carro, ela, lógico, quis sentar-se ao lado dele. Ele não se fez de rogado. Eram aqueles bancos inteiriços. Quando ela foi sentar-se ao lado do motorista, sentiu a mão dele no assento!!! Ela, ao invés de enrubescer, deu sonoras gargalhadas. Norma e eu nos entreolhamos, os olhos esbugalhados com o comportamento da moça. Mas também rimos muito. Bem que foi engraçado.
      O Labib, por causa de seu trabalho, (tinha com os irmãos sociedade de uma agência de carros) ia muito a São Paulo, buscar os novos modelos, zero km. De uma feita, minha mãe recomendou-lhe que levasse uns quilos de café, para presentear sua prima da Argentina, que se hospedara na casa de Said Samara, patrício e amigo da família, estas coisas que só acontecem com “brimos”. ( Nunca se veem, passam anos e anos sem se encontrar e ... são “brimos”. Na hora agá, agem como se fossem vizinhos contíguos de longa data.) Eu nunca tinha ouvido falar em Said Samara. Mas, quando minha mãe falou de sua prima Alejandra, que se hospedara na casa de Said Samara, percebi que eram verdadeiros amigos. Que lindo, hem?  Então minha mãe queria presentear a sua prima, e nada melhor para um argentino (pois a prima era argentina) que levar café brasileiro. Empacotou alguns quilos de café e Labib foi incumbido de levar o regalo.
      Maravilhosa teia do destino! Labib chegou ä casa do Sr. Said, tocou a campainha, foi recebido pela empregada que o levou à sala.  Sr Said tinha um gosto clássico na decoração do seu lar. Era um sobrado magnífico, com uma escadaria imponente. Labib ficou esperando, com o pacote nas mãos. De repente, não mais que de repente, ouviu o som de uns saltos altos chegando. Toc toc, o som já avisava: sou única! Labib olhou para a porta e o que viu deixou seu coração aos pinotes. Que morena linda! Que graça e encantamento! Foi amor à primeira vista. E seu nome era inglês, proparoxítono! O que conversaram, quais as senhas trocadas, se houve riso ou silêncio nesta visita marcada pelos sonhos de Dona Sálua, não sei. O que sei é que, à noite, ele telefonou empolgado para casa: “ Conheci uma zoiúda!!!”... Eu acho que conheço bem o Labib, alguma coisa, vamos dizer. Já o tinha visto em pleno dia de noivado, com a cara mais desanimada do mundo. Mas agora... Telefonando e falando da beldade!!... Ele nunca falava das garotas, namoradas ou noivas que teve na vida. E agora... C’est l’amour, l’amour pour toujours!
      Evelyn era universitária de Odontologia. Ingressara na USP, em primeiro lugar. Sua inteligência se espelha em seus olhos vivazes, em sua conversa interessante, em seu modo de vida. Na adolescência, infelizmente  perdera a mãe e era muito responsável pelos irmãos mais novos: Anélys, Nádia, Rubens e Victor (gêmeos) e Lúcia. Sempre admiramos a união entre eles e a figura da Evelyn, mantendo a união.
      Preciso também narrar que os Nemes e os Samaras se deram muito bem, desde o início do namoro do Labib. Pareciam não primos, mas irmãos. Uma coisa muito rara, que persiste até hoje.
      Sucederam-se visitas de lado a lado, noivado rápido. Trocaram alianças de mão direita numa noite mágica, em que Evelyn estava belíssima, com aquela aura do charme paulistano, que nós, do interior, enxergávamos e invejávamos.
      Não demorou nada e o casamento foi marcado.
      Meus pais nos trouxeram a São Paulo para comprarmos os tecidos dos vestidos para a festa. Lembro-me muito bem: meu pai ficava sentado, ao lado do balcão, enquanto o vendedor nos apresentava uns tecidos mais lindos já vistos. Era na Ladeira Porto Geral, e a loja fora indicada pela costureira de Bauru, Lílian Pontes, uma das melhores de toda a cidade. ( O meu vestido, com o tempo, sumiu, mas tenho o cinto até hoje. Não era crepe, não era seda, não era tafetá. Só sei que era maravilhoso!)
      Sr Said e meus pais queriam que a cerimônia fosse realizada na catedral ortodoxa, com todo aquele aparato. Os noivinhos não discutiram.
      Naquela época, meu pai tinha um apartamento em São Paulo, Lá todos nós nos arrumamos para a festa. Muitas pessoas numa kitchenete!!  De repente, a voz do Labib:
     --” Cadê minha gravata??” Todo mundo procurando, aflito. O noivo tinha que aparecer com gravata! Foi um escarcéu. De repente, o Labib tascou um olhar e achou a gravata. Onde? No pescoço do Nelson! “      
       ----Pôxa, Nelson, nem no dia do meu casamento?” Só risadas e alívio.
  Foi um casamento inesquecível: muito luxo, muita pompa, muita emoção. Labib estava elegantíssimo! E a Evelyn maravilhosa. A igreja estava repleta de convidados, parentes e amigos das duas famílias, e, quando Evelyn apareceu, era como se uma história de fadas estivesse sendo apresentada. Uma princesa, bela e fascinante.
       Não conseguimos, em determinado momento da cerimônia, conter o riso, quando vimos o Labib dando voltinhas no altar. Muitos salamaleques, muitas palavras, muitos cantos, muito tempo! 
      Saindo dali, os noivos  correram à Igreja Católica para selar a união na Igreja que ambos frequentavam. Bem casados!!!
      A festa foi linda, cheia de gente elegante, bela e feliz.
      Partiram em lua de mel. Quando voltaram, o Labib estava com um problema nas costas e a Évelyn  com torcicolo. Lógico, foram alvo de piadas nem sempre elegantes. Evelyn enrubescia.
      Meus pais adoraram a primeira nora. Admiravam-na muito e sentiam-se muito felizes com o casamento do filho mais velho.E, desde o começo, senti que estava ganhando uma verdadeira irmã.
      Evelyn logo engravidou. Quando o Fred nasceu,  que curtição!! Todo mundo era louco por ele. E ele era daquelas crianças que colaboravam com as brincadeiras dos tios e tias. Uma delícia. Porque - todo mundo sabe - há crianças que não são fáceis nem para rir quanto mais para brincar!
      Depois veio a Patrícia, Pat, e o mundo começou a apresentar mais cores e beleza. Deliciosa criatura!
      Finalmente, chegou quem faltava: Daniela. Outra delícia. Ninguém imaginaria que aqueles olhos verdes, anos mais tarde, iriam correr o mundo, num afã aventureiro.
      Labib tinha um gênio um pouco estourado, característica de Nemes. Era sensível e qualquer palavra poderia magoá-lo. Isso é próprio de quem trata bem os outros e nunca espera uma reação negativa. Evelyn soube equilibrar o temperamento impetuoso do marido.
      Évelyn , como mãe, tem um jeitinho maravilhoso com crianças: sincero, terno, delicado e gracioso. Seu fino senso de humor estendeu-se a seus filhos. Uma conversa com eles e estamos gargalhando. Évelyn sabe transformar uma cena insípida em comédia. Quando minha filha nasceu, dava-me muito gosto ver a Évelyn brincar com ela. É sincera, carinhosa, graciosa. Sou fã dessa minha cunhada-irmã  valorosa. 
      O tempo provou quanto esta nora foi  merecedora do amor dos sogros e da família! 
      Vamos lembrar do Labib: pai apaixonado e um apaixonado por crianças.
       Brincava tanto, tanto com os filhos e sobrinhos-  que eles explodiam em gargalhadas. Só que aí ele não parava, até a criança se cansar e começar a chorar. Sempre era assim: riso, riso mais alto, gargalhada, gargalhada, gargalhada. Muxoxo. Mais muxoxo. Caretas. Choro. Gritos!!! E a criança sendo arrebatada por alguém! Hahahahá!! Mas por causa deste jeito especial que ele leva com crianças é que os filhos dele saíram deste jeito incrível: ninguém enjoa de ficar perto deles. Um carinho, uma atenção, um entusiasmo, Labib e Evelyn: vocês têm que dar a receita desta gostosura. E mais: até os netos, nora e genro são adoráveis. 

      Tenho muito que agradecer a este irmão. Não só pelas gargalhadas gostosas que dá com as minhas piadas sem graça. Agradeço a companhia silenciosa e crítica enquanto eu estudava piano. Aquele compartir coisas belas, como música e leitura. Como sou grata por ter-me inspirado tanta confiança: sempre pude contar com ele, sempre me acudiu e me tirou de dificuldades: matar baratas... Vocês nem imaginam o terror que eu tinha destes bichos repugnantes. Era pavor elevado às últimas potências. Eu tremia, arrepiava-me, sofria! Era só bater  na parede, e já aparecia meu salvador. (Quem diria, Labib, que o homem com quem me casei nunca matara baratas. E não cedia frente ao meu terror. Para salvar a Karen, tive que fazer das tripas um encouraçado e dizimar  a inimiga.)     
       Às vezes Labib e eu nem precisávamos conversar.
       Ele escolhia música da nossa discoteca e ficava ouvindo, de olhos fechados. Eram músicas melodiosas, suas prediletas: Night and Day, Na Baixa do Sapateiro, Carinhoso.  Apreciava especialmente as músicas espanholas, ou as ciganas.
       Com a família, deitava-se no colo da mãe, da esposa, das irmãs, das filhas ou mesmo das sobrinhas, e, de olhos fechados, entregava-se à beleza da música.
       Labib pouco mudou. Acredita nas pessoas, é incapaz de prejudicar alguém. Sua amizade com Nassib sempre foi forte e leal. Todos os dias conversam, ou pessoalmente ou por telefone. Nassib não fazia nada sem falar com ele.
        É o irmão sempre presente na vida dos irmãos e irmãs. É o pai que ama os filhos, apaixonadamente e é capaz de qualquer sacrifício por eles. É o avô sempre carinhoso e pronto pra dar uma palavra  aos adoráveis netos. É o marido que sabe, reconhece o valor da mulher que tem. E ostenta esse orgulho. 
      
NOTÌCIAS:
      Fred e Celinha, um casal que Deus, os anjos, os santos  e nós todos abençoamos. Flávio, também engenheiro, é nosso amor comum.
      Patrícia e Willian Abo Arrage, um par tão perfeito que só poderia nos dar um Leandro,  o maravilhoso fruto deste lindo amor. 
      Daniela é a aventureira-mor da família. Viaja, corajosa e curiosa,  por todos os lugares, desde o enigmático Egito às muralhas da China. Graças ao seu empenho, à sua insistência, Labib conheceu uma das cidades que mais o atraíram, desde a mocidade: Paris. Pelo relato da Dani, Labib andou a Champs Élysées todinha! Convido Daniela a escrever sobre esta viagem. E a Pat, e aos membros da família do Labib,  que quiserem repartir suas lembranças.
      Com os filhos, com toda a família, Labib viajou e somou outros conhecimentos à sua cultura.
      O Labib me emociona. É claro que tenho adoração e respeito por ele. Quando ele morava em São Paulo, numa visita que lhe fiz, devido ao concurso para o Magistério, me contou que, andando de ônibus pela capital do Estado, deparou, no trajeto, com uma casa cujo número era 1140! E chorou. E, ao me contar, seus olhos marejaram. Labib, também eu choro ao deparar com este número, ao circular pelos bairros próximos a minha casa. Por mais felizes que sejamos em nossas atuais vidas, impossível não sucumbirmos às recordações doces, cheias de cantos e alegrias, músicas, brincadeiras e até discussões que redundaram em grandes e sonoras risadas, no casarão da Rua Cussy Júnior.
      Rua Cussy Júnior, 11-40! Quem passou em frente a este número, desta rua, naquela época, não se esquecerá nunca da alegria que se irradiava de suas luzes sempre acesas e de suas portas e janelas sempre abertas. E muitas pessoas jamais se esquecerão de um jovem que ali morava, magro, moreno claro, de olhos verdes, cujos modos finos, educados, encantadoramente másculos e gentis sempre conquistavam amizades. E há aquela coisa dentro dos olhos dele, que, ao fitá-los, neles depositamos toda nossa confiança. Que ele nunca trai.
      

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      Labib está agora ao lado de seus pais, junto às suas queridas irmãs, Alice e  Renée, conversando e troçando com o Nassib, ouvindo o Wilson... No dia 6, de fevereiro, de 2002,  justamente no mês de seu aniversário,  à noite, pegou aquele expresso que nunca se adianta nem se atrasa, e que nos leva, finalmente, num piscar de olhos, diante de Deus. Boa viagem, meu amado irmão! Eu o terei sempre como uma dádiva com que Deus nos presenteou. 


Anexo:  depoimento do Fred.



       Sobre meu pai? Sou suspeitíssssssssimo para escrever sobre ele. Sempre foi comunicativo e extremamente simpático, dava-se bem com todo tipo de pessoas , independentemente de sua classe social ... 
      Até hoje as pessoas que o conheceram falam dele com grande saudade e admiração; lembram dos grandes papos que tiveram ...Meu pai era muito prestativo , enérgico mas com um enorme coração, uma pessoa muito boa, leal e justa . Um estudioso das ciências exatas ... Gostava sempre de saber como as coisas mais sofisticadas funcionavam,  um engenheiro de alma ...
       Quando comecei a estudar física no Ernesto Monte e no Colégio Técnico , levava as questões mais polêmicas para ele resolver e sempre era muito interessante. Às vezes, durante as refeições (que ele sempre queria no mesmo horário), tínhamos grandes papos e resolvíamos grandes problemas mundiais ...
       Apreciava uma boa culinária, tinha paladar apurado,  mas não era de cozinhar ... era adepto da “cura pelo limão” .
       Teve grandes “discussões calorosas” sobre os mais variados assuntos com o Tio Benjamin , desde física ,direito, agropecuária, lavouras , engenharia , medicina ...
Uma pessoa maravilhosa , de quem  muito me orgulho de ser filho .