segunda-feira, 19 de outubro de 2015

27 - Casa paterna

27 - CASA PATERNA    

     Os anos foram-se passando. 
     Quem chegara, partira: minha avó.
     O quarto que ficara vago foi escolhido pelo Wilson, que tão unido era à sêti.
     Nelson ficou com um quarto só pra si. 
     Nos anos 50, Alfredo resolveu fazer uma reforma drástica na casa. A varanda estreita e comprida, ladeada  do canteiro ao lado, onde floria a Dama da Noite, tornou-se, com o fim dele e da gentil dama, uma varanda grande, espaçosa, um verdadeiro jardim suspenso. Sustentando-a, Alfredo projetou 11 colunas, o número da família: pai, mãe e nove filhos. Sob uma das colunas, Norma escreveu numa folha os nomes dos membros da família, ideia de Alfredo. (Será que, quando demoliram a casa, a folha foi encontrada?

     Outra modificação: as paredes da varanda foram decoradas com azulejos verde-água, dando realce ao piso de cerâmicas vermelhas e amarelas.. Ficou espetacular! Na varanda, havia uma parte descoberta, quadrada, que passava sobre nossa garagem e terminava sobre o muro que nos separava do vizinho. Alfredo pediu autorização para o Sr Luís que a concedeu. Então, à noite, ficávamos na rede, num suporte (que igual nunca mais vi), admirando as estrelas do céu bauruense. Quem já viu esse céu incomparável sabe que é um verdadeiro show.Você distingue não só as estrelas, como também as constelações. Um sonho de cores e de mistérios.

      
      Sálua enfeitou com plantas diversas a grande varanda. Alfredo trouxe da fazenda mudas de samambaias. Elas se desenvolveram tanto, tão magnificamente, que, no comentário de Alfredo, poderiam esconder um homem. Era verde que não acabava mais na imensa varanda, unido ao verde do azulejo

      
     
     Alfredo resolveu derrubar as paredes que separavam o escritório da sala de jantar e assim nasceu uma grande sala com dois ambientes: sala de visitas e sala de jantar.
     A sala anteriormente sala de visitas foi transformada em sala de música e o piano, que já estava ali, ganhou definitivamente seu lugar.
     Outra modificação, projetada anos mais tarde pelo Nassib: o quarto do Wilson, vago, pois já morava em sua casa, transformou-se no banheiro da suíte de meus pais. O quarto deles ficou fantástico: quarto de dormir, quarto de se vestir e banheiro.
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     A copa sempre fora muito grande, não havia o que mudar, a não ser os azulejos nas paredes: escolhido o verde-água também. A cozinha unida a um outro cômodo ficou enorme e abrigou dali pra frente  balcões de mármore, pra dar conforto e espaço a quem  cozinhasse.
     Os quartos não precisaram de mudanças.
     No banheiro, a grande e bem vinda mudança foi a válvula de descarga. Ai, quanto todos nós trabalhamos pra desentupir o vaso! Ufa!  Éramos, praticamente, especialistas no assunto.
     Alfredo, a pedido de Sálua, instalou, adicionada à casa, uma cozinha caipira, com fogão a lenha, e onde, por reminiscência dos áureos tempos do ciclo cafeeiro, ainda, de quando em quando, torrávamos café.  
     O grande abacateiro foi tombado, a contragosto dele, lógico. Muitos homens foram chamados pra ajudar nessa tarefa. Suas raízes pareciam de ferro. Depois de muita força, muita gritaria, o abacateiro se rendeu. Antes Sálua tivera o cuidado de plantar seus caroços, vê-los brotar e, portanto, mandar pra fazenda as pequenas mudas.Aquela espécie maravilhosa não seria extinta. Sem a grande árvore,  o quintal ficou enorme e plano, propiciando um estacionamento pra muitos carros.
      Assim que a reforma terminou, Sálua  plantou dois chapéus de sol, ao lado das garagens cobertas; sibipirunas ao longo do muro entre nossa casa e a do Sr Luís. Uma espatódea, na entrada da cozinha caipira.Em brevíssimo tempo, as árvores se agigantaram, esplêndidas.
   Essa moradia vivia colorida de vida, de luz e de sons. Música de manhã à noite. Fora o piano, alegravam o lar os duetos dos gêmeos, o violão da Norma, os programas musicais de rádio e tv, os discos inumeráveis da discoteca do Labib.
     Enfim, era uma casa ampla, feliz, confortável, hospitaleira, que sempre viverá em nossas memórias. 
     O mágico desse lar: mesmo que agora só exista  no país das lembranças, a casa continua a nos oferecer conforto, beleza,alegria e abrigo.
Casa paterna!