quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Agradecimento

Agradecimento

Agradeço a Deus! Só Ele torna possíveis nossos projetos, nossos sonhos, nossos anseios.

E agradeço à minha amiga Ana, que pacientemente leu meus escritos, incentivando-me sempre e sempre com altas e poéticas palavras, que me encorajavam a prosseguir.

À minha amada filha Karen agradeço tudo: as lições de computação, as lições do Word, o aprendizado do blog, da inserção das fotos, enfim, tudo que fez de meus escritos um blog e fará deles  um livro.

Merci!

sábado, 16 de julho de 2016

3 - Primeira página


Primeira Página

Cussy Júnior 11-40. Para sempre.

     A casa da Rua Cussy Júnior. Nem me venham com o papo de que foi demolida. Viverá sempre assim, em nossas melhores memórias: aconchegante e cheia de sons, de portas abertas, enfeitada de verde e de flores.

63 - Última Página

    63 - Última Página

     Nossa família diminuiu de um lado e aumentou e aumenta do outro.
     Nossos desbravadores, nossos protetores, nossos heróis foram sendo levados, em ordem incompreensível, ao Deus da misericórdia.
     Assistimos às partidas de quem mais nos amou, nos amparou.
     A vida corre, o tempo voa.
     As palavras são vento? Não! As palavras ficam. Lembramo-nos dos entes queridos em suas frases de amor, de alegria, de aconselhamento. Lembramo-nos dos amados nos momentos pesados em  que vimos nascer translúcidas lágrimas em seus olhos. 
     Temos o conforto de saber que Deus se apiedou deles e lhes deu morte santa, livrando-os dos tormentos de doenças e de dores insuportáveis.
     Saudade sempre:
     Wilson 
     Antônio
     Jorge
     Alfredo
       Sálu
     Renée
     Nassib
     Labib
     Benjamin
     Lenita
     Said 
     Alice
     Osvaldo
     E tios amados
     E amados primos e amigos
     E amados sobrinhos, levados tão cedo.
     Que estejam em paz, nos jardins do Senhor. Ou nos pomares do paraíso (Osvaldo sempre preferiu frutas às flores)
      Se não for descabido, olhem por nós e esperem-nos com paciência. 
      Muito amor.
 

segunda-feira, 6 de junho de 2016

55 - Sete anos de mestra Sônia servia..

55 - Sete Anos de Mestra Sônia Servia...

       Meu tempo de Iacanga ia-se esgotando. Não me sentia bem na diretoria.  Ansiava por voltar às minhas aulas, aos meus alunos.
       Quando abriram as inscrições para o Concurso de Remoção, nem pensei uma segunda vez. Inscrevi-me.

       Logo chegou aos meus ouvidos a notícia muito alvissareira de que uma professora de Português do Morais Pacheco iria se remover. Haveria, portanto, uma vaga nessa escola tão seleta. Apontei minhas armas para lá. Se caso não fosse possível,  ficaria mais um ano em Iacanga, rezando para que um diretor assumisse a escola amada.
       Gente, foi um filme de suspense o dia da remoção. Ninguém tinha ideia de onde poderia cair. Precisou que todos fizessem sua opção e, depois, começasse tudo de novo, com as novas vagas deixadas. Nunca pensei sofrer agonia igual, tendo que fingir que não estava nem aí, se não conseguisse. O pior: a professora , que deixaria a vaga, fazia mistério, querendo vender-me seu lugar. Logo vi que ela sairia de qualquer maneira. Mas como ela fazia mistério e suspense, tentando ganhar uns cobres, eu não poderia ter certeza de nada.
       Resisti estoicamente às investidas interesseiras dela. Deus no comando. Não deu outra: a mafiosa deixou as aulas, que, na nova chamada, passaram a mim. Sabem? Foi a primeira e( coisa rara) professora mau caráter que encontrei. Imagino esse traste num cargo de primeiro status na educação. Lixo!
      Comecei meu pastoreio de sete anos no Morais Pacheco. O que dizer dessa época? Alunos interessados, estudiosos, dedicados. Era uma delícia estar com eles. Se algum se ausentasse em duas aulas seguidas, eu ficava doida.
       Meu querido aluno Antônio Thomasi, de repente, parou de frequentar a sexta série. Eu não podia acreditar. Não ele! Não esse ótimo aluno, de letra desenhada e uniforme. Mandei recados, comentei na sala de professores. Mas não houve jeito. Antônio se transferira para o curso noturno. Iria trabalhar  com o tio.
       No dia dos professores, em plena comemoração com a classe de que eu era a orientadora,  recebi uma carta dele. Chorei como só pode chorar uma professora que vê seu aluno de talento se distanciar de seu grande objetivo. Mas, não! Sua carta me garantia de que continuaria perseguindo seus objetivos e que os sacrifícios o fariam crescer. Nossa! Ele era o adulto e eu a criancinha chorona. Seus colegas me consolaram. Temia por ele. Temia que, estudando no período noturno, o estudo fosse menos rigoroso. Que exigisse menos dele. Odiei o tio, odiei a necessidade de trabalhar tão cedo. Ele só tinha 11 anos!
       Ainda o encontrei uma vez na Rua Batista de Carvalho. Meu coração parecia explodir. E, quando vi uma feia cicatriz em seu pescoço,  ideias péssimas me habitaram a mente. O tio exigente lhe vergastara o corpo com uma chibatada: e disparara: "ou trabalha ou morre! " Isso com um rictus cruel nos lábios. Ai! Minha imaginação não me deixou dormir, ainda mais que vi, em minha alucinação copperfieldiana uma cicatriz cortando de cima abaixo o rosto do algoz.
       Outros alunos marcaram minha vida aí no Morais. Foi maravilhoso. Utilizei com eles o livro de Criatividade de Samir Curi Meserani e foi sucesso absoluto enquanto estive nessa maravilhosa casa de ensino.
       O que me dava muita alegria era saber que nenhum pai ou mãe reclamava do material que eu exigia. Era escola de periferia, mas nunca vieram se queixar do dinheiro que gastavam com dois livros didáticos e quatro de leitura extraclasse. Esses são pais que entendem o valor do estudo. E outro motivo de satisfação era que os pais liam os romances de leitura  extraclasse. Eram obras não necessariamente de autores brasileiros. Havia A Cabana do Pai Tomás, Robinson Cruzoe, Éramos Seis, Aventuras de Tom Sawyer, O Escaravelho do Diabo, Meu Pé de Laranja Lima. Enfim: livros que estimulavam a leitura, pelas emoções. Nós, pais de alunos e eu, vivíamos em lua de mel. 
       Houve uma classe que acompanhei desde a 5a série até a 8a. Na quinta, eram pequeninos, lindos, curiosos e temerosos. Nunca sabiam a reação dos professores às brincadeiras. Num determinado dia, entrei na 5a série e coloquei minhas coisas na mesa. Livros, canetas, dicionários. A carteira do aluno da fila central ficava bem grudada quase à mesa. Ficou hipnotizado por algo meu.
       -- Dona Sônia, onde a senhora comprou essas canetas? ( eram três: azul, preta e vermelha. Eram canetas Pilot, de escrita fina, novidade na época) 
       Achei difícil dar o endereço do supermercado onde adquirira esses objetos. Ficava nos altos da cidade e o Morais se situava na Vila Bela Vista.
       Dei qualquer resposta e prometi dar o endereço em outro dia. Eu nem poderia imaginar aquele toquinho de gente saindo da Bela Vista para se aventurar nos longes dos altos da cidade. Pensei: passarei lá e comprarei para ele.
       Os dias se passavam e, na correria das aulas, não encontrava tempo para ir comprar as canetinhas. Mas isso só me prejudicava, porque meu aluno não perdoava: "Onde a senhora comprou as canetas?"
      Finalmente, houve uma pausa nos afazeres e pude ir até ao supermercado dos altos da cidade. Comprei as canetas, embrulhadas para presente e, no dia seguinte, entreguei-as ao interessado. Ele nem acreditava. Diga-se de passagem que ele merecia, porque seu caderno era limpinho e super organizado, com letra cuidada, pequena e com correção. Os subtítulos em vermelho, uma graça. (Esse último dado, letra pequena, não interfere na caligrafia. É só pra mostrar pra vocês que eu me lembro perfeitamente do caderno e da letra dele. Fazendo um esforcinho, lembrarei o nome: sei que é derivado de roberto ou alberto. Mas não era Felisberto. Nem Adalberto. Começava por A.
         Muitas décadas depois, encontrei-o e ele se lembrava das canetas. 
         Naquela época fiz uma grande parceria com o Jair Lott Vieira, o dono da Jalovi. No final de semestres, ele doava ótimos livros com que eu premiava os alunos.
       E o que dizer da Diretora da escola? Se alguém merece ser chamada de educadora é ela: Maria dos Anjos Cintra.Diretora modelo, escola modelo. Um orgulho!
        O diretor Francisco a substituiu nos últimos dois anos em que aí fiquei. 
       Assim se passaram sete anos. Até o ano em que me casei.
       O Morais Pacheco alargou minha vida. De repente, estava não com oito irmãos, mas com dezoito. Uma fraternidade jamais vista numa escola. Nós não só nos amávamos, nós nos rejubilávamos com as conquistas de nossos "irmãos".
       Lílian era nossa enciclopédia portátil. Sabe das coisas não por ouvir dizer, mas com conhecimento científico. Uma professora de Ciências e de Biologia, antes dentista, mas com o dom de atrair os alunos para sua disciplina. Era um tal de os alunos chegarem, com caixinhas na mão, e dentro delas algum inseto horripilante, mas conduzido com todo o amor. E bichos. E plantas. E recortes de jornais. Tudo era interesse, tudo era amor ao estudo.
     Nílvia, com sua voz agradável e quente, levava os alunos ao conhecimento do mundo, de suas riquezas e de suas perdas.
     Minerva dava à História uma conotação humana, objetiva e verídica, sem os arroubos que desvirtuaram, décadas mais tarde, o estudo dessa disciplina.
     Evelyn, ah! Como sabia ser minha irmã. Nós nos entendíamos desde o tempo em que trabalháramos juntas em Pirajuí. Sinto tanto o tempo ter-nos afastado. mas ela continua sempre a ser uma de minhas melhores lembranças.  Evelyn, professora de Educação Física. Organizava apresentações incríveis com as alunas. Mil vezes Evelyn! Dilma nunca teve ninguém como ela, para a abertura de  uma copa.
    Marilene, minha colega de área, com quem planejava os rumos de nosso ensino de Português. Voz pausada, tom sempre educado, era uma paixão entre os alunos. Sua influência se fazia sentir de um modo tão sutil! As suas alunas logo queriam escrever com letra mais cuidada, mais bonita, mais limpinha, porque a professora escrevia no quadro com letra limpinha, bonita e cuidada.
     Marta Barbosa, professora de Português. Que voz cheia de energia, de personalidade! Foi com prazer e muito honrada que escrevi seu elogio ao concurso de Professor do Ano. A história dela saiu igual à protagonista: interessante, cheia de vida e de amor ao magistério. Claro, com tantos predicados, só poderia ser premiada. 
     Professor Arlindo, irmão das professoras, adorável colega e instigador da inteligência dos alunos. Sua tese era que os alunos não sabiam Matemática porque não entendiam Português. Ao que eu rebatia: eles não sabem explicar porque não entenderam a Matemática. Essa nossa discussão eterna. Hahahá! Éramos muito amigos. Também me senti honrada por fazer seu elogio para concorrer ao título de Professor do Ano. O Professor Arlindo não foi premiado, mas recebemos notícias de que só não o fora porque, no ano anterior, já abiscoitáramos o prêmio. com a Marta Barbosa, querida e inigualável professora de Português. Também me contaram que uma das examinadoras dos processos dissera que os nossos elogios - o da Marta e o do Prof. Arlindo -  eram quase romances, pois  revelavam a beleza das pessoas descritas, no seu mister e no seu dia a dia, com seus interesses e suas paixões. 
      Cariene, a musical, conseguiu levar a Banda da Polícia Militar ao colégio. Que aula foi aquela! E que aulas ministrava nossa maestrina!
    Renê, colega que guardava debaixo do sorriso fácil, uma história familiar de perdas irreparáveis. Sempre amiga, educada, laboriosa. E o principal: sempre em paz consigo mesma e conosco. 
   Benê, professor de Desenho. Ah, sempre falava que todos poderíamos desenhar! Infelizmente nunca consegui. Ah, Benê, queria ter sido sua aluna!
    Jussanã, nosso colega e, mais tarde, diretor. Um homem simples, dedicado à sua profissão.Queria inventar, para quando desse o sinal depois do intervalo, uma  cadeira que desse choque nos professores, que continuassem sentados, mesmo ouvindo a chamada para as aulas. Ríamos e aí, diante da ameaça, íamos para as salas.
    Havia outros colegas também. Maravilhosos. Mas esses que descrevi eram nossa família. De verdade. 
   Numa festa junina, Renê e eu não nos acanhávamos de ir com bobs nos cabelos. À noite, haveria o encontro com o namorado, e precisávamos estar lindas. Naquela época nem íamos muito a salões de beleza.

      No meu casamento, quinta-feira, ao meio dia, acredito que não houve aulas no Morais Pacheco. O corpo docente estava todo na festa, incluindo o diretor da escola, Francisco de Assis. Estão aí na foto: Sr Arlindo, Prof. Gutenberg,  Mariko, Rosa, Maria do Carmo, Evelyn,  Sei que Lílian, Nílvia , Marilene, Minerva também estavam aí. 
Minha família pachequeana.
 


quinta-feira, 31 de março de 2016

39 - Fafil querida!

Colegio São José Av Rodrigues Alves Centro Bauru SP







(Neste local, em pleno centro de Bauru, na Avenida Rodrigues Alves, neste lindo edifício histórico, hoje do Colégio São José, funcionou, em seus primeiros anos, a FAFIL) Foto do Google, muito apressada. Poderiam esperar o ônibus sair da frente..

39 -  FAFIL: FACULDADE DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

          Terminado o Curso Clássico, Mari e eu prestamos as provas vestibulares na FAFIL, como era popularmente conhecida aquela que, anos mais tarde, se tornaria a poderosa USC
          Seríamos a terceira turma da escola que as laboriosas freiras fundavam em Bauru.


          O pior desse momento é que não compartilháramos uma com a outra nosso sonho de cursar Direito. Naquela época, poucas meninas se atreviam a fazer o curso. Ficamos inibidas e, muito novinhas, tivemos vergonha de tentar o que mais queríamos. Só de pensar na multidão de homens com quem teríamos que estudar - eram 499 homens para uma garota entre os estudantes de advocacia -  nós acabamos por desistir. Enfim, muitos anos se passaramaté que, há poucos anos, soubéssemos que nós duas juntas poderíamos ter enfrentado a coorte masculina.
         Logicamente fomos aprovadas no Vestibular da Fafil. Só que Mari escolhera Letras Anglo Germânicas e eu Letras Neo-Latinas.
                O prédio era antigo, com salas amplas, e, seguindo o padrão do Colégio São José, tudo brilhando, mesmo no assoalho antigo e nas portas e janelas altas. Havia pátio e era tão grande, que, nos intervalos, muitas vezes nos sentávamos sob as árvores, no chão gramado. Doces lembranças!
                Tínhamos, Mari e eu,  muitas disciplinas em comum: Língua e Filologia Portuguesa, Literatura Portuguesa, Latim, Teologia, Filosofia  E, mais tarde, a maior parte das didáticas.
               Dos professores que marcaram nossa vida universitária, ressalto as maravilhosas aulas de Literatura Portuguesa, com o então Frei Roberto ( deixou de ser Frei) as nutritivas aulas de Latim, com o Professor Aníbal Campi, (chamo de nutritivas porque eram cheias de substância, alimentavam o intelecto), as  exposições de Filologia Portuguesa, com o Professor Retz, por quem tínhamos fascinação, mercê de seu estilo sarcástico, e, sem dúvida, a Didaticae Mater, Irmã Arminda Sbrissia, que nos deu, no primeiro ano, aulas de Língua e Literatura Italianas.
          Irmã Arminda era a reitora da Faculdade e, nesses primeiros tempos, exercia a função de professora de Italiano. Como a Faculdade estivesse se organizando, toda a vez que a Irmã Arminda estava conosco, em seu mister de professora, aparecia alguma freirinha para chamá-la a fim de  resolver algum problema na secretaria.  A Irmã querida tinha sempre um ar de surpresa com essas intervenções e interrupções à aula, volvia o olhar sereno e confiante sobre nós, passava duas ou mais páginas do livro pra que as estudássemos, e partia, sem olhar pra trás. E assim foi o ano todo.
           No ano seguinte, impossível que ela pudesse continuar naquela maratona. por isso contratou um vice-cônsul italiano como professor de Língua e Literatura Italianas. Era Ubaldo Chiappa, que só falava italiano, recém-chegado ao Brasil. Ó milagre dos céus. Quando ele começou a falar, nós o entendemos perfeitamente. Tínhamos tido Irmã Arminda! Inspirada e inspiradora!
           No primeiro ano da Faculdade, conheci  colegas que seriam pra sempre do meu coração. Jussemy Aguiar Monteiro, Júlia de Campos Fraga. Com Mari, tornamo-nos inseparáveis. Juntaram-se a nós  Olinda do Prado, figura elegantíssima e bela, que morava em Lençóis,  Sylvia, de voz de mel, Cynira, moreninha de estatura baixa, linda, que não usava nenhum tipo de maquiagem.  Entre os homens, José Romão , Sr Machado, Sílvio e  Célio, que também era de Lencóis. Nenhuma de nós entendeu como Olinda namorou o Célio. Enigma pra todo o sempre. Vamos dizer, ele não era nenhum Adônis e, intelectualmente, não se destacava nas conversas nem nas aulas. Enfim "le coeur a ses raisons que la raison ne connaît point" Havia ainda outros colegas inesquecíveis: Ivete Soares, Daisy Massad.   Um colega simpático mas que não era muito assíduo às aulas era o  Sílvio. As classes eram pequenas. Da turma de Anglo havia a Zélia, excêntrica, com ideia fixa de morar na Europa. E está lá até hoje, casada com alemão, lecionando em universidades de Berlim.
       Havia o Professor Benedito, que, no ano seguinte, assumiria as aulas de Literatura Brasileira. E Leda, professora de Língua e  Literatura Francesas, figurinha carioca que nos conquistou. Havia ainda aulas de Literatura Italiana (Ubaldo), Teologia :Padre Leopoldo, depois Padre Huberto, depois Padre Natal. (Nossa!  Alguma coisa está errada no reino da Dinamarca. Fui aluna, na Fafil, de cinco maravilhosos religiosos e quatro deles abandonaram o hábito. A começar pelos queridos Roberto, Huberto, e lembrando  Álvaro e  Natal. Sem contar o Padre tão admirado que celebrou tantos casamentos, inclusive o meu, e que, certa feita, até pediu socorro de orações aos fiéis, porque estava sofrendo forte tentação. Como é difícil ser feliz! As orações não foram fortes suficientemente).
          No intervalo das aulas, ou nossa patota ia até a Padaria Central, cujas empadinhas eram consideradas paradisíacas, ou ficávamos na esquina da Avenida Rodrigues Alves, jogando conversa fora e nos assustando com a quantidade de irmãos que me mandavam sair da esquina. Cada hora passava um com um carro.  Jussemy contou dez irmãos! Só que ela nem sabia que meus manos eram só quatro e tinham agência de carros. Hahahá! Mas eu não apreciava aqueles olhares zangados que os irmãos me lançavam. Ficar na esquina conversando, que coisa vulgar! Verdade seja dita: Labib era o único que não me mandava sair de lá e cumprimentava minhas amigas.
          Nem  sei como é que fui adotada por essas colegas. Como já expliquei, era eu fortemente tímida na época. Some-se a esse bloqueio a sem gracice e vocês terão meu retrato inteiro. A primeira a se ocupar comigo foi a Jussemy. Quisesse ou não, era obrigada a ir com ela à Lalai, onde patotas diferentes se reuniam. Eu era o próprio peixe fora d'água. Entrava muda, saía calada. A única a perceber meu desconforto foi ela, a instigadora desses passeios juvenis. Olhava-me, com compreensão e dizia a meia voz:
          -- Lamartine é mais divertido, não é, Sônia? Eu, quase engasgada com o peso dessa sociabilidade obrigatória, anuía, sem forças pra proferir uma palavra, com vontade absurda de cair em lágrimas. Bem por aqueles dias, decorara uns versos de Lamartine:" Un seul être vous manque et tout est depeuplé". Jussemy, como você botou o dedo sem dó na ferida? Putz! Sempre fui um livro escancarado para você! Pois estava, naquele momento, pensando nos versos! Amiga pitonisa.
          Mas se eu pensasse que todo meu desajuste iria comover minha líder, enganar-me-ia totalmente. Aonde ela ia eu tinha que ir junto. E esses convites eram tão delicados que eu seria muito estúpida e grosseira se os recusasse. E assim começou a processar-se minha socialização. Para se ter uma ideia: eu ia à padaria com a turma e nunca comi uma empadinha. De timidez. Realmente, eu era quase um caso perdido. No colegial, as amizades eram restritas ao colégio e às obrigações escolares. E havia a Mari, é verdade. Mas, na época, nem saíamos juntas pro cinema ou algum baile. Atividades que eu tinha com a Norma. Então foi um bocado difícil, mas consegui sair do meu pequeno mundo. E, pouco a pouco, cinemas, bailes, Lalai, mais tarde Capristor faziam parte de um mundo comum com minhas amigas.

          A Faculdade transcorreu maravilhosamente. E, se tivesse que começar algum outro curso, se a roda do tempo voltasse, seria esse mesmo estudo que eu escolheria, com as mesmas colegas. mas talvez preferisse modestamente a Sorbonne! (Sonhar sempre foi meu forte).

quinta-feira, 3 de março de 2016

41 - Formaturas


41 - Formaturas

     A conclusão do curso de 2o Grau coincidiu com a minha formatura do Curso de Piano.Esta, sim, foi cheia de gala. Com direito à audição antes da entrega dos diplomas.
     Lembro-me que, logo no começo do ano, cada aluno escolheu a peça musical que coroaria a festividade da conclusão do curso. Meu sonho era tocar o Scherzo de Chopin. Quase morri: já fora escolhido. Pensei na Balada do mesmo compositor. Também já tinha dono. Fiquei muito, muito decepcionada, revoltada, injustiçada. Foi burrice. Se havia tantas obras magníficas de Chopin! Mas emburrei e, por obra do destino, ouvi, pelo rádio ( a gente ouvia rádio como hoje se vê TV: a todo o momento) uma execução esplêndida de Ante El Escorial, de Lecuona. Pronto. Resolvi o problema, indo à Casa Ribeiro e encomendando a partitura. 
     Geniosa e criativa. Lecuona nunca entrara no Conservatório. Uma peça apaixonante. O melhor é que ninguém discutiu minha escolha. Aceitaram-na. E foi ótima!
      Não toquei muito diferente do pianista aí do You tube. Que bom. Pena que, passadas décadas, não toco mais.
    

      1959: Esse ano pra mim foi histórico, divisor de águas.Formatura do Curso de Letras
     A Faculdade elaborou um programa com 
    - missa na Capela do Colégio São José 
    - entrega dos diplomas em sessão solene( muito solene: nós às gargalhadas com as becas)
   - baile no Automóvel Clube

    Há fotos em que o Professor Retz me entrega o diploma. E  há também fotos do baile. Lembro-me que dancei com o Wilson e , entre uns passos de dança, ele gritava para o Dr que o tratara da mordida de cão:
-- Auauau!
     E o médico respondia, dando volteios nas danças:
     --Auauauauau!
    Não houve nenhum par mais interessante com quem eu dançasse.    
   Afinal, dancei com Labib, Nelson e Wilson.  Acho que o Nassib nem foi ao baile. E, se tivesse ido, não dançaria mesmo comigo.Também dancei com alguns amigos do Nelson. Lembro-me do querido Johnny. Um amigo, quase irmão.


Ante El Escorial-Lecuona - YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=y-b4qjuHFqE
 

quarta-feira, 2 de março de 2016

40 - Anos 50/60 A televisão

            40 - Anos 50/60: A Televisão

Lembro-me muito bem quando estivemos em São Paulo e visitamos o patrício Fuad Samara. Fomos introduzidos em sua bela e espaçosa casa e sentamo-nos numa sala de estar, com a televisão ligada. Meu pai ficou absolutamente hipnotizado. Se um dia ele quisesse morar em São Paulo, seria por causa da TV, porque Bauru ainda não a conhecia.
Passados alguns anos, chegou finalmente a notícia de que a Televisão seria implantada em Bauru. Poder-se-ia encomendar na Casa Lusitana o aparelho. E foi o que Alfredo fez, num piscar de olhos.
 A televisão teria um canal próprio em Bauru, graças à família Simonetti, que regia a PRG8, emissora radiofônica de nossa cidade. Sim, foi uma grande conquista. Nenhum canal da capital se interessou ou endossou a ideia de levar a TV para o interior. Nossos homens interioranos  realizaram o sonho de muitos. 
Finalmente chegou o dia em que a TV começaria a ser transmitida em Bauru.Nós, como outros bauruenses, já tínhamos buscado nas lojas nossos aparelhos que estavam instalados, meio no improviso. A antena móvel do aparelho ora tinha que ser puxada do lado esquerdo, ora do lado direito, ora para frente, ora para trás! Só quem viveu esses tempos sabe como foi torturante ver a imagem certa, depois, abaulada, depois alongada, enfim: muito distante do real. mas a TV chegou pra nós. E veio colorir a vida de Alfredo e Sálua. Eram filmes, eram programas, era Um Instante, Maestro! E, deliciosamente, Sílvio Santos, o entretenimento predileto. Ah, era um sonho tornado realidade.
  A partir desse glorioso evento, Alfredo e Sálua deixaram de ir ao cinema. Pois tinham cinema em casa, agora!
Filmes dramáticos, de suspense, de terror, de amor, esportes os mais variados, luta livre, futebol, Sílvio Santos, programas de calouros, não perdiam nada. E Alfredo só assistia em paz se Sálua estivesse ao seu lado, de mãos dadas. 
Se, por acaso, ela estivesse supervisionando a cozinha, era um tal de :
        -- Sálua! Sálua! Sálua! Em altos brados.

Televisão poderia ser um divertimento maravilhoso, mas só seria mágico se estivesse de mãos dadas com ela.